Ensaio Sobre o Pensamento Reacionário

“Uma revolução que teve êxito, que se estabeleceu, transformada no oposto de uma fermentação e de um nascimento, deixa de ser uma revolução, porque imita e tem que imitar as características, o aparato e até o funcionamento da ordem que derrubou. Quanto mais se consagra a isso (e não tem como fazer de outro modo), mais destruirá seus princípios e seu prestígio. Doravante conservadora a seu modo, lutará não para defender o passado, mas o presente. Nada ajudará mais nisso do que seguir os caminhos e os métodos que o regime que aboliu usava para se manter. Da mesma forma, para assegurar a durabilidade das conquistas de que se orgulha, ela se afastará das visões exaltadas e dos sonhos de onde até então extraíra os elementos de seu dinamismo. Só é realmente revolucionário o estado pré-revolucionário, aquele em que os espíritos se consagram ao duplo culto do futuro e da destruição. […]

Não há anarquista que não esconda, no mais fundo de suas revoltas, um reacionário que espera a sua hora, a hora da tomada do poder, em que a metamorfose do caos em … autoridade apresenta problemas que nenhuma utopia ousa resolver ou sequer encarar sem cair no lirismo ou no ridículo.

Não há movimento de renovação que, no próprio momento em que se aproxima do objetivo, em que se realiza através do Estado, não resvale para o automatismo das velhas instituições e não tome a forma da tradição. […]

Podemos discorrer indefinidamente sobre o destino das revoluções, políticas ou outras: só uma característica lhes é comum, só uma certeza resulta do exame a que as submetemos: a decepção que suscitam em todos os que acreditaram nelas com algum fervor.”

Cioran

Exercícios de Admiração, Ensaios e Perfis

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