A Viagem de Frei Beto

Se algum ateu, agnóstico ou um simples cético em matéria de religião algum dia se sentiu desconfortável com a sua condição de descrente, bastaria, para mantê-la intacta e ainda mais inabalável, ler o artigo do Frei Beto na FSP, quinta, 3/06/2010.

O que é isto? Pensaria atônito. Sem respostas, teria porém uma certeza: a de não querer tomar parte desta coisa. A confusão mental de quem escreve o que escreveu Frei Beto não se compara à nada semelhante ao que poderíamos classificar como um êxtase; com o prejuízo de  soar como poesia de qualidade pra lá de duvidosa. Um maconheiro, um bêbado, preserva uma certa graça, um ar cômico em sua viagem que o absolve do patético frente a nós sóbrios que o observamos. Mas Frei Beto escrevendo em jornal? A gente espera um mínimo de compostura, de gravidade… Ao fim do artigo, nos perguntamos o que ele tomou.

Só mesmo um estado de perturbação mental explica o jorro de Frei Beto. Só mesmo quem se propõe a crer em algo, qualquer coisa, a qualquer custo, pode entrelaçar todas aquelas palavras soltas e imaginar que elas comunicam algum sentido.

É por isso que desconfiamos seriamente de toda instituição religiosa, de qualquer padre, pastor, líder espiritual ou homem que se pretenda intermediário entre outro homem e sua particular ligação com  “algo além”, se ela houver. Há sempre um quê de charlatanismo, de canastrice em toda atuação destas figuras que qualquer pessoa minimamente séria adotará uma desconfiança profilática quando cruzar com elas.

Ecologia, religião, cristianismo, profetas, bíblia, rituais católicos, Gaia, viagens estelares, cosmos, cosméticos, carne, esqueletos, ossos, beleza, cremes e feiura!!! Frei Beto é incansável. Mas nos presta um serviço inestimável, em tempos de tanta descrença na Igreja, a nós, crentes ou descrentes: a certeza de que é melhor manter distância do frei e de seus pares de qualquer denominação.

Um Péssimo Presidente, mas um Ser Humano Notável

O Clóvis Rossi, que eu tanto gosto de criticar, recebeu do Presidente Lula, que ele por sua vez tanto gosta de criticar, um presente pelo qual não esperava (A Paella de Lula). Lendo seu relato do incidente em que quebrou as costelas quando tentava se aproximar do Lula num evento em Madri e dos  desdobramentos subsequentes, fico aqui imaginando as reflexões que foram desencadeadas na cabeça do Clóvis, quando relata toda a atenção a ele dispensada tanto por seus colegas jornalistas de outros veículos, teoricamente concorrentes, quanto, e neste caso ainda mais espantoso, pelas equipes do Itamarati, da Presidência da República, do médico do Presidente e pelo próprio Presidente, pessoalmente.

Claro, nem de longe insinuo que o jornalista usa o episódio pra se auto promover, isto seria coisa de amador principiante. O Clovis já tem tanta rodagem que isto não deve nem de longe passar pela sua cabeça e, além do mais, a estória é mesmo muito boa pra deixar de ser contada sob o risco de ser lida  como pavoneamento. Não é isso definitivamente. Mas o espanto do jornalista com o tratamento a ele dispensado por quem não tem motivo nenhum para tal, denota um traço do seu caráter  que não passou despercebido e que pode ser sumarizado no fato de que, se a situação fosse contrária, ele não teria pensado em cobrir de cuidados alguém que ele considera que não vai muito com a sua cara. Não lhe ocorreria este golpe de mestre. Mas ao Presidente ocorre, e por isto ele é o “cara”. Fico imaginando que novamente o Lula deu uma daquelas cartadas de gênio e desta vez pra cima justamente do Clovis que o desanca na Folha uma vez sim e outra também. Como este muito bem fechou no seu artigo, o Lula é um ser humano notável, enquanto nós, inclusive  o jornalista, somos simples mortais.

Primeiramente queria comentar as metáforas que ele usa para ilustrar para nós que o lemos o seu trabalho e de outros jornalistas “concorrentes” quando diz que “nenhum de nós acha que é preciso dar uma facada nas costas do concorrente para fazer melhor o seu próprio trabalho, sem adversários” . Ele talvez pressupõe que achemos, pela violência verbal de algumas asserções dos jornalistas, que eles vivem se pegando e disputando entre si por exclusividade, pelo furo individual, o que seria facilitado pela inexistência de adversários. Mas acho que no fundo, ao negar esta impressão que ele acha que possamos ter,  é mais ou menos isso mesmo como ele  vê o seu trabalho: um negócio meio violento e às vezes desleal, parcial, superficial nas críticas e cheio de egos em disputa.

Mas voltemos à melhor parte do episódio. O Lula é muito inteligente e sabe que uma boa, senão a melhor maneira de desarmar um oponente é surpreendendo-o. No caso, com todo o tratamento que foi dispensado ao Clovis, inclusive com os requintes da visita do Presidente, que lhe manda uma “quentinha”, acompanhado de sua “entourage” ao leito do convalescente. Foi um prato servido por um refinado “chef” ao Clóvis.  Eu queria ser um mosquito pra observar a cena que se passou naquele quarto onde certamente o Presidente exerceu todo o seu charme de quem já está acima de tudo e de todos, inclusive e sobretudo do Clóvis todo quebrado ali, imóvel, sem poder nem digitar direito as suas costumeiras estocadas no barbudo. É visível a caturrice do Clóvis nos detalhes que deixa escapar quando, por exemplo, usa o verbo “ordenei” dirigido ao Presidente: “senta aí e escreve o resto, vai”. Senta aí? Escreve, vai!? Verbos todos no imperativo para sugerir ao Presidente que ele completasse o texto que o Clóvis acabara de iniciar justamente a respeito de Lula. Não é qualquer um que dá ordens a um presidente: o cargo intimida mesmo aos mais desabridos e insolentes. Mas não ao Clóvis…

É engraçado também quando ele explica esta relação próxima e cordial com a pessoa física dos presidentes, citando FHC, que também criticava “impiedosamente”, mas com quem tinha uma relação mais formal ensejada “pela idade de cada um”. Imagino que quis dizer que o Lula, mais jovem, o Clovis conhece desde os tempos em que ele “é que podia mandar quentinhas pro Lula e não o contrário”. Senti nostalgia de um tempo em que a posição dos dois era outra… e um pouco, por que não dizer, de despeito, como quem diz: “ô Lula, hoje você está por cima da carne seca, mas lembra que tu já teve muito por baixo, a ponto de até eu poder te mandar umas quentinhas que você iria agradecer por ganhar…”

Eu acho que o Clovis estava no fundo meio incomodado com o episódio todo porque ele teve que reconhecer para si mesmo que o barbudinho é mesmo um caso único de competência e habilidade, goste-se ou não dele, concorde-se ou não com seu governo, e que talvez reste muito pouca coisa para criticar, porque, pelo jeito, ele tem mesmo um dom que poucos tem, um conhecimento meio instintivo do que fazer nas mais diversas situações, inclusive na mais improvável de todas que ele ocupa desde que despontou em 1979: a de Presidente. Ele deve ter pensado: “este Lula é tão surpreendente, que por vezes eu fico inseguro pensando que um dia minhas críticas se revelarão muito equivocadas e que ele, o Lula, estava vendo coisas que eu não conseguia ver…”

Mas o Clóvis, mesmo com as costelas quebradas,  não ia dar o braço a torcer assim fácil e pespegou o Lula na saída: “você é um péssimo presidente, mas um ser humano notável”. Chamou “o cara” de péssimo! Na cara e depois de tanta atenção! Ô Clóvis, quero imaginar que você agradeceu, mas porque não se sentiu confortável de demonstrar gratidão no seu relato? Isto sim é notável! O Lula deve ter dado um sorrizinho maroto e pensado: “ganhei mais um”. Aposto que quando o Clóvis ficou sozinho no quarto, deitado imóvel na cama e com dores, deve ter pensado: “é… o sujeito é mesmo o cara!” E sorriu, meio emocionado, meio contrariado por ter como presidente este retirante nordestino com um décimo da instrução dele,  todo errado,  que depois de ter conquistado o Brasil, agora se mete nas altas rodas do mundo todo prosa! As mesmas em que ele, até bem pouco tempo atrás, nunca imaginaria que o Lula iria botar no bolso, também!!

Só no Brasil!

Quando se diz que algumas coisas só acontecem no Brasil, logo vem à mente o Tim Maia com aquela frase que resume a obra somada do Sérgio Buarque de Holanda, do Faoro, do Darcy só pra citar alguns: “O Brasil é um país onde traficante cheira, cafetão se apaixona e puta goza”.  Ah, e onde pobre é de direita! E pra não deixar dúvidas de que este país é realmente de outro planeta, teríamos agora que acrescentar que aqui corrupto entra na justiça pra reclamar “quebra de contrato”: construtoras se juntaram pra fraudar licitações, ou seja, para praticar um crime tipificado na lei, e uma delas foi reclamar na justiça que o esquema foi desrespeitado. Só rindo! Não cabe mais nem indignação. A coisa está em outro patamar.

O caso é manchete da FSP de sexta, 19/03/2010. Quatro construtoras acordam entre si um esquema para driblar licitação e dividir a obra que apenas uma, obviamente a que oferecesse melhor condição ao poder público, deveria executar. Para garantir o acerto, assinam um “contrato” (sic!), um instrumento que só pode ter efeito prático no mundo legal, para garantir o cumprimento do acordo ilegal.

Ocorre que uma delas, a que “ganhou” a licitação, deu calote nas outras. Uma das “prejudicadas” então entra na justiça para fazer valer o esquema paralelo criminoso. Isto mesmo: o sujeito entra na justiça reclamando uma coisa que ele tem que manter escondido, porque é co-autor do crime,  e como prova da reclamação não amparada na lei, fornece o “contrato” que vem a ser a prova do crime previsto em lei: fraude em licitações. Só mesmo no Brasil!

Só por isso o caso já cairia no anedotário nacional, mas tem mais: a obra que as construtoras fraudaram era do prédio do Instituto Nacional  de Criminalística da Polícia Federal cujos peritos tem como tarefa analisar, dentre outros, documentos apreendidos pela PF sobre o próprio esquema fraudulento que as construtoras montam para burlar licitações!! É rocambolesco o troço, não é brincadeira! Viva o Zé Simão: é ou não é o país da piada pronta?! Nóis sofre mas nóis goza!!

Eu cheguei em casa cansado, confesso que meio pra baixo por alguns problemas pessoais. Peguei o jornal na portaria do prédio e comecei  a rir. Gargalhar, na verdade. O Brasil é mesmo maravilhoso: tão surreal que nos proporciona este tipo de experiência. Acreditem, eu não fiquei indignado, não consegui…

Ombudsman da FSP

Astronauta faz fiasco na Lua


Uma das atuais manias do jornal é usar a torto e direito a palavra “fiasco” para qualquer coisa que saia dos planos


Na sua autobiografia, “Magnificent Desolation” (Magnífica Desolação), lançada para comemorar os 40 anos da chegada do homem à Lua, o astronauta Edwin Aldrin, que com Neil Armstrong desembarcou no satélite em 20 de julho de 1969, fala sobre o pai, um coronel da Força Aérea, que ele chama de “opressor”.

Ele não confirma a história muitas vezes contada de que as primeiras palavras do velho Aldrin quando o filho chegou em casa após a missão da Apolo 11 foram: “Nem lá em cima você consegue ser o primeiro?”. Mas relata situações em que o pai deixou claro que segundo ou terceiro lugares obtidos pelo filho não representavam muito em sua avaliação.

Pais não são os únicos que exageram no rigor com que cobram o desempenho de alguém. Veículos de comunicação também. Às vezes, eles criam enormes expectativas em relação a algum personagem público ou fato e se elas não se cumprem, mesmo que os resultados sejam bons ou mesmo ótimos, os desclassificam desproporcionalmente.

A Folha tem sido exemplar nesse sentido. Uma de suas atuais manias é usar a torto e direito a palavra “fiasco” para qualquer coisa que saia dos planos. O termo significa fracasso retumbante, desastroso, vexatório.
Mas, nestas páginas, serve para classificar qualquer coisa que não vá muito bem. No domingo passado, a manchete do caderno de economia decretava: “Mercado projeta “fiasco” fiscal pela primeira vez”. Qual era o vexame prognosticado? O superavit primário do governo federal em 2010 ficar em 2,5% do PIB em vez da meta fixada de 3,3%. Não é preciso ir muito fundo e discutir se é bom procedimento dar como certa previsão de mercado num ambiente econômico volátil em que se erra tanto nas antecipações do futuro. Nem ressaltar que a declaração do ministro da Fazenda reafirmando que os 3,3% serão atingidos saiu na terça numa notinha mínima ao pé de uma arte em página interna. O que é notável é que num país que colecionou déficits fiscais durante décadas um possível superavit cerca de 30% abaixo do previsto seja considerado um fiasco, mesmo com as aspas que foram colocadas nele.

Em esporte, fiasco é rotina. A palavra aparece 2.213 vezes numa busca do arquivo do jornal. A Argentina perder do Brasil no futebol, o país não conseguir medalha nos mundiais de judô e atletismo, tudo é fiasco. Na Olimpíada de Pequim, o leitor Andrei Guilherme Lopes reagiu quando leu no jornal que Jardel Gregório tinha sido um fiasco no salto triplo: “Um atleta que fica em sexto na maior competição esportiva do planeta é um fiasco?”
Se Edwin Aldrin, o pai, fosse editor da Folha a manchete do jornal de 21 de julho de 1969 poderia ter sido: “Aldrin faz fiasco na Lua”.


FSP, 27/09/2009

Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2008.

Impertinências com a imprensa brasileira

Como Me Livro do Clóvis Rossi?

O Clóvis Rossi pergunta ao Fernando Rodrigues, na sua coluna de quinta (de quinta-feira, 17/09/09, “Como me livro da internet livre”, claro), agora que o Senado “liberou geral ou quase” a internet para a campanha eleitoral, como ele faz pra “defender a minha liberdade da liberdade da internet?”

Em si a pergunta é descabida e vinda de um jornalista, classe por excelência e dever de ofício defensora profissional da “liberdade” (de expressão, no caso), anacrônica. Espero que o Fernando Rodrigues ajude seu colega a recuperar a lucidez, mas eu não resisto a também dar umas ideias.

Primeiramente eu diria que de liberdade a gente não se defende. Convive-se com ela. Se algo é livre é a princípio bom. Internet é espaço público, como tal sujeito a regras de boa convivência, não de cerceamento, e onde as liberdades individuais se ajustam mutuamente. Não seria diferente pro Clóvis só porque ele é jornalista e se aborrece igualmente como todos nós com o lixo que entra pela caixa eletrônica sem pedir licença. Dá mais trabalho, mas o Clóvis vai continuar tendo que limpar a sua caixa. Existe uma regrinha básica de convivência que crianças urbanas aprendem bem cedinho: não sabe brincar, não desce no play.

E sobre a “praga dos blogs” aí o buraco é mais embaixo, porque na verdade a irritação do jornalista é com outra coisa.  O Clóvis começa se dando uma importância que obviamente não tem, pois só ele mesmo pra imaginar que “todo blogueiro parece achar que eu não consigo começar o dia (ou terminá-lo) sem ler seu imperdível blog”. Clóvis, diferentemente de sua coluna, que todo dia me é empurrada com a Folha (sou assinante) e que, portanto, não posso escolher não receber, sob pena de perder o resto que é relativamente aproveitável, os blogs a gente ESCOLHE acessar. Logo, basta NÃO acessar. Mas se a sua imaculada caixa recebeu um spam com o link, caímos apenas no problema acima: limpe sua caixa, não precisa ler o blog correspondente ou clicar no link já que você já decidiu previamente que isto é uma praga. Delete. Simples assim.

E sobre seu surto legislador, só tenho a agradecer a Deus que você seja apenas jornalista. Dos males, o menor. Se deputado ou senador fosse, provavelmente encaminharia seu megalômano projeto de lei, que tipificaria como crime de lesa-humanidade (!), equiparado a Auschwitz, aos extermínios de Ruanda e de Darfur, uma suposta “imposição de blogs à caixa postal alheia e cerceamento de escolha de blogs que o cidadão quer ler por vontade própria”. Fala com o Senador Azeredo, vocês parecem comungar devaneios.

Mas sobre a nova “lei eleitoral” (entre aspas porque o que foi aprovado é um solene insulto ao eleitor), nenhuma linha tratando das doações ocultas, do verdadeiro “liberou geral” pra toda e qualquer ficha suja que queira concorrer, da esculhambação total com a necessária prestação de contas e suas consequencias, inclusive ineligibilidade em eleições futuras, nada…

O Clóvis se ateve apenas ao seu corporativismo de classe. No fundo lhe incomoda a concorrência que uma internet livre impôs aos figurões do jornalismo, alguns caminhando céleres para a irrelevância. E ele se entrega totalmente na sua coluna de sábado: “qualquer um cria sua página e, a partir dela, sente-se livre para alvejar quem quer que seja”.  Aí eu sugiro ao Clóvis que inclua um artigo em sua legislação dos sonhos que somente portadores de carteirinha de jornalista possam criar páginas na internet. Assim ele preserva o necessário filtro para que apenas pessoas qualificadas, como ele, possam “alvejar quem quer que seja”. Apesar de esquecer que hoje isto já é livre: todos nós somos livres pra alvejar, inclusive fisicamente, quem quer que seja, a legislação apenas se limita a prescrever as penalidades. Seu comentário me faz lembrar daquele outro do presidente Lula sobre o Sarney, que não seria um cidadão qualquer. E seu surto é do mesmo quilate da lei recente que um deputado qualquer resolveu criar proibindo a venda de bananas em dúzias, apesar de ser hábito secular e totalmente contrário ao interesse da população.

Lamentável. Ainda bem que o Carlos Eduardo lava a alma do leitor na sua coluna de domingo e expõe as mazelas da sua classe. Espero que o Clóvis tenha lido. Eu já havia comentado sobre o papel irrelevante que o Clovis Rossi se compraz em representar em sua coluna. E o comparei com o Janio de Freitas. Pois bem, no mesmo dia 17/09/09 este nos brinda com um admirável artigo sobre o mesmo tema da lei eleitoral. Fala o que deve ser dito. Não se prende em seu interesse mesquinho de classe, tarefa a que o Clovis se esmera em cumprir cotidianamente.

Ah, ia me esquecendo, Clóvis Rossi: você pode ler este meu email, caso não siga a sugestão acima e simplesmente delete a praga da sua caixa, no meu blog: https://mpborges.wordpress.com/.Coloca no seu “Favoritos”. E Twitter, você tem? Posso,http://twitter.com/mpborgeste seguir? Tens orkut? Me adiciona?

Ps: caro, ombudsman, você pode fazer este comentário chegar ao Jânio de Freitas? Afinal ele foi elogiado e acho que merece saber que o trabalho dele é respeitado.

Comentário à coluna “Como me livro da internet livre” do Clovis Rossi.

Impertinências com a imprensa brasileira

Às vezes a gente não entende bem o que este pessoal que escreve em jornal quer dizer…. Ou até entende, mas não acredita… Ou acredita mas tenta não taxar o sujeito como um preconceituoso simplório. Difícil…

Afinal, o Sr. Robert Muylaert quis dizer  o que com seu artigo “As Vantagens de um Monoglota”? Estava sendo irônico com o fato do Lula não falar outra coisa além do português? Aliás, nem isso, não é mesmo? Há pouco tempo falava “menas gente”. Ou acredita mesmo ser isso uma vantagem nos embates internacionais de nosso intrépido líder monoglota?

Mas como o articulista nos esclarece que seu ex-chefe FHC “brilhou” na Assembléia Francesa na língua dos locais, não sem “suar” frio, o que só abrilhanta mais seu “tour de force”, somos por outro lado tentados a acreditar que falar outras línguas seria uma característica desejável, apesar do aparente colonialismo que o Dr. Roberto identifica nesta atitude.

Por outro lado, Lula, a quem o Roberto reputa em vantagem por ser monoglota, é comparado com norte-americanos, em condições bastante desfavoráveis para o presidente. Sabemos que mundialmente os yanques são odiados pelo seu orgulhoso alheamento de tudo o que não seja eles mesmos. Lula comungaria com esta atitude e sem complexo de inferioridade, acrescenta o Dr. Roberto.

É engraçado como este assunto volta sempre à baila: como pode um retirante nordestino, semi-analfabeto, torneiro mecânico, sindicalista, sentar na cadeira que já acomodou um legítimo, letrado e garboso intelectual da estirpe de FHC?

Não dá pra entender. Mas isso já é tão superado… Impressionante como ainda alguém se disponha a se espantar com o fato. Lula comete atentados diários quando abre a boca, é verdade. Mas me pergunto: e daí? Não dá mais pra se indignar com isso, convenhamos. O que deveria causar espanto e, independentemente de preferências políticas, até admiração é justamente como um sujeito com este currículo, ou falta de, chegou onde chegou. É bastante admirável, caro Roberto, acredite. Ainda mais no Brasil. Sorte? o brasileiro não sabe votar? demagogia? Nada disso, mas um talento excepcional, diferente do que comumente aplaudimos por aí, mas um talento excepcional que a despeito de tudo isso hoje é Presidente. Sinceramente, o Sr não acha isso admirável? No  mundo lá fora, onde pessoas de bom senso e inteligência, que não se veem obrigadas a tomar lado numa disputa emocional e cegante, aplaudem o feito sem pestanejar.

Estes dias revi um documentário de 1979, “O ABC da Greve”, do Leon Hirsman. É impressionante o desempenho do Lula no palanque, no gestual, no trato com as pessoas. “Entreatos” mostra a mesma desenvoltura do personagem.

Ou seja (como tanto gosta de falar o Presidente), concorde-se ou não com Lula, achemos ou não que já tivemos presidentes mais à altura, brasileiros com  melhor  “pedigree” no passado, Lula é uma realidade. Aliás, um caso quase único no mundo, muito raro com certeza.

O Presidente merece todas as críticas pelas barbaridades que seu governo comete, mas muito poucas, aliás nenhuma, por seu parco linguajar. O Sr Roberto quis parecer elegante, mas só demonstra resentimento e um elitismo “demodée” que, acredito, nem o FHC, pensando bem,  endossaria. No todo, um artigo lamentável e desnecessário. É realmente impressionante como berço, educação formal, uma vida de poucas privações materiais, não conseguem extirpar a indigência  cultural da elite brasileira da qual nosso articulista parece ser um belo exemplar.

Comentário a respeito do artigo “As Vantagens de um Monoglota” do Sr. Roberto Muylaert, ex-Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social do Governo FHC.

Folha de São Paulo, 24/04/2008

Impertinências com a imprensa brasileira

Elio Gaspari

Email ao Ombudsman da Folha de São Paulo, jan/2007

Gosto muito do Elio Gaspari, mas às vezes ler sua coluna é um exercício de advinhação, um joguinho de esconde-esconde onde o colunista parece ficar “piscando” pros seus leitores que, ou possuem o código, uns privilegiados, ou são como eu, e  ficam com a sensação de que estão bancando os  bobinhos do jogo.

Vejamos a nota “Guichê” de domingo, 21/01/07:  um “conhecedor” (quem? ok,  é “em off”. Esta passa)  viu “movimentos” de figuras do PP e hierarcas da Petrobras (quais? aqui já caberiam nomes). E que “movimentos” são estes? Oferecem dinheiro? Quanto? Pra quem? É só conversa? Não sabemos…

E chega o próximo parágrafo, este só para iniciados: “não soube se houve preferência pela paisagem do Recreio dos Bandeirantes ou se houve outra coisa…” Sic! Neste caso, temos um  mundo de possibilidades tão grandes quanto a extensão da Macumba ao Pepê (só para brincar com as deixas que  o colunista gosta tanto de usar, mas que só agradam aos mais chegados. Neste caso, o pessoal aqui do Rio sabe que eu quis apenas dizer que são vastas as possibilidades).

Resumindo: pra quem o Elio escreve? Pra patotinha que se diverte e liga pra ele de volta dizendo que “matou” a charada? Mas isso é meio desrespeitoso com todo o resto que não pode checar, certo? Nós que ficamos de fora, olhando uns pras caras atônitas dos outros nos perguntanto: você entendeu? Eu não…  e você? Também não…. Eremildo, o idiota, somos nós, seus leitores.

Continuo achando o Elio um excelente jornalista, mas será que ele pode parar um pouco com estas coisas, descer do pedestal de “monstro sagrado do jornalismo brasileiro” (merecido, claro) e, de quando em vez, escrever feito jornalista que precisa ser compreendido pelos seus leitores, não por seus fãs de carteirinha? A escumalha agradece.

Rio, 22/01/2007

Impertinências com a imprensa brasileira

Clovis Rossi e Jânio de Freitas

Email ao Ombudsman da Folha de São Paulo, maio/07

Assino a folha desde 1989 e observo seus altos e baixos há tempos. Dentre eles, um movimento recente vem me chamando a atenção: a qualidade da produção de duas de suas principais “estrelas”, membros inclusive do Conselho Editorial: Clovis Rossi e Jânio de Freitas, produção esta temperada pela novidade, de 2003 pra cá, de um governo petista. Ambos, acertadamente críticos deste governo. Mas  o primeiro se parece cada vez mais com um tiozão ranheta, produzindo muito pouco jornalismo e abundante irrelevância em seus comentários, e o segundo se firmando como a mais lúcida voz da Folha e por extensão, do jornalismo brasileiro.

Clovis Rossi deveria ser deslocado definitivamente para a reportagem. As que produz são excelentes. Mas como colunista, limita-se a um cotidiano exercício de busca de deslizes do governo, como alguém que cata pulgas, tarefa com a qual Lula e o PT colaboram abundantemente, diga-se. Adora apontar o dedo nitidamente magoado. Mas isso é muito pouco para alguém com a sua experiência e muito fácil em se tratando de um governo pródigo em vacuidade.

Clovis, nitidamente muito mais preocupado com a condição particular de uma classe que já não dirige tranqüila em São Paulo e que teme pelos netos, parece de vez em quando que escreve na Veja e para o público de Veja: um grupo que se leva muito em boa conta e que posa indignado com o país e seu governo, mas como se isso fosse novidade lulista.  Ok, Lula passou a vida toda falando o contrário e quando chega lá, faz tudo diferente, é verdade, isto irrita. Mas irritação não combina com lucidez: fomos ludibriados como sempre no geral; a novidade em termos de engodo ocorreu na ética prometida e não entregue (os outros governos se limitavam a não entregar, dado que não prometiam com especial ênfase), mas Lula e o PT só repetiram nossa grotesca história. No entanto, o Rossi prefere se sentir magoado e reclamar feito um marido traído, desavisado e sentimental.

No domingo, dia 13/05/2007, se comprazia em apontar uma aparente contradição da Ministra Dilma quando esta comparava o PAC com outros programas do passado. Lembrou-nos o colunista que neste mandato o próprio Lula disse que não mais se compararia com outros, mas com ele mesmo. A Dilma aparentemente não seguiu a ordem do chefe, apontava Rossi. E este seguiu digladiando-se com o fato de que ou o PAC dá 100%, ou então 60%, 70% de realização seria admissão de mediocridade (tenho certeza de que o Clovis sabe que isso é um exagero). Eu me pergunto: e então? Lula falou besteira de novo? A Ministra não prestou atenção? Se o Clovis estivesse lá na apresentação do PAC ele apontaria este fato para a Ministra? Claro que não! Ele sabe que isto é irrelevante, mas ele escreve: não resiste em se perder no detalhe do que seria uma falta de combinação de discurso entre chefe e subordinado. E este foi só o exemplo que escolhi para comentar. O padrão se repete com muita regularidade em sua coluna.

Jânio de Freitas é sempre relevante.Vai contra a corrente tanto da oposição quanto da situação. Tem a lucidez de quem olha para as coisas com distanciamento. Erra, acerta e sabe disso, mas é sempre relevante. Vejam sua coluna de hoje, 17/05/2007, sobre  a entrevista presidencial. Enquanto que quase a imprensa em coro enaltece  a desenvoltura de Lula, e até estranha porque ele não fala mais, já que se sai tão bem, Jânio tira os véus: perfeita a comparação com o  esnobismo, a marquetagem e o triunfalismo oco da era Collor. E sobra pro Serra também. Quase sempre sua coluna vai ao ponto, dificilmente se perde no dispensável.

Dou um desconto pro Rossi porque tem que escrever todo santo dia naquele espacinho no qual se espremem 4 colunas, 2 editoriais,  a charge e as frases! Fica difícil mesmo produzir algo além de reclamações e ritornelos. O Jânio tem mais tempo e espaço para depurar.

(Aliás, a página 2 da Folha foi a que mais sofreu com a reforma gráfica. Se compararmos com o Estado, Valor, O Globo e Gazeta, a Folha é o jornal que mais dificuldades impõe aos seus colunistas, principalmente pra quem escreve ali na página 2. Vocês criam problemas para si mesmos e levam junto profissionais que nitidamente podem produzir melhor.)

Mas isso não é o essencial: Clovis Rossi e Jânio de Freitas tomaram rumos diferentes, pena que o primeiro parece se perder no seu.

Rio, maio de 2007